domingo, 23 de maio de 2010

Para o exercício da autonomia

"As causas de adolescentes pobres no tráfico de drogas"


     Os adolescentes, em geral, constroem sua identidade e obtêm maior independência num mesmo período da vida. A fim de adquirirem certa visibilidade e conseguir a tão pretendida autonomia, muitos procuram pelas drogas e pela criminalidade. Diante disso, as autoridades proclamam leis e mecanismos de repressão e segurança pública para combater atividades relacionadas, como o tráfico de drogas.
     A imagem do traficante, formada pela sociedade, é a de que se trata de um jovem de classe baixa; enquanto o jovem consumidor de classe média ou alta, é apenas um comprador de drogas. Essa diferença é fruto de preconceito e é falaciosa. A generalização apressada induz o indivíduo a relevar os meandros que geram as escolhas feitas por outrem. Apesar de serem mais comuns em favelas, as bocas de fumo (onde a droga é distribuída) concentram pessoas de diferentes classes sociais. A razão dessa convergência é, possivelmente, tatear a liberdade de maneira individualista em detrimento dos valores coletivos.
     Essas ações podem estar vinculadas ao pensamento neoliberal, se for considerada a difusão de uma "ideologia de massa" adquirida com veemência nos anos 80, na "Era Reagan". O aumento das disparidades sociais se intensificou à medida que os efeitos dessa política não-associativa (redução do salário dos trabalhadores, aumento do desemprego...) se deram. O historiador Eric Hobsbawn associa a ampliação daquelas ao abandono das políticas sociais. Assim, o resultado social dessas ações é uma população de adultos descontentes e jovens, filhos destes, que têm de abandonar a escola cedo para promover uma geração de renda para casa.
     A maneira escolhida de manifestar insatisfação diante disso, por parte dos que vivem em periferias pobres, é por meio da violação das regras dos que as consideram indispensáveis à sua existência. Enquanto isso, delimitados pela prisão do ar, contidos na prisão do corpo, como disse Drummond, os futuros donos do mundo vivem sua liberdade: na tentativa de viver, a qualquer custo, o suficiente para exercer a tão desejada autonomia moral e intelectual.

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