domingo, 23 de maio de 2010

Da desigualdade entre os homens

Sobre esse trecho com a opinião do militar Jarbas Passarinho, fiz um comentário.


"Não existe racismo no Brasil. Não temos em nosso país nada que se assemelhe ao apartheid que existiu na África do Sul ou à descriminação que, nos Estados Unidos, produziu uma sangrenta campanha pelos direitos civis. A sociedade brasileira não é racista e, prova disso, é que não há clubes exclusivos para brancos. Se o negro não é admitido lá dentro, o que existe é preconceito econômico. Preto não entra no clube porque é pobre. A questão é, no fundo, de mobilidade social. Vindos de uma camada mais pobre, os negros dificilmente têm acesso às funções de maior relevo. Se já tivemos generais pretos, nenhum deles chegou à quatro estrelas, por exemplo. Há gente de cor em nossos tribunais superiores, mas não no Supremo Tribunal Federal. O quadro se assemelha à discriminação sofrida pela mulher, que também tem dificuldade de chegar aos postos altos. Não podemos esquecer que a situação, no entanto já foi pior. Quando entrei para a Escola Militar de Realengo, em 1939, havia um racismo mascarado. Após pegar sol nas praias do Rio de Janeiro, um caboclo do Pará tirou uma fotografia e a enviou com o pedido de inscrição à direção da Escola Militar. Foi recusado. Quando compareceu pessoalmente, o pessoal percebeu que ele não era preto e o rapaz foi aceito. No Realengo, havia ainda um aberto antissemitismo. Os judeus eram barrados. Apesar da escravidão durante o período da monarquia, o racismo como doutrina não vingou no Brasil por causa da miscigenação. O português aqui cruzou com negros e índios, ao contrário do que ocorreu na África, e isso gerou a fabulosa mulata brasileira, admirada por todos. O curioso é que, se há algum preconceito racial, ele é cultivado pelos próprios negros. Por que Pelé e Romário escolhem mulheres brancas para o casamento? Parece que ao ascender socialmente, o negro brasileiro tente a desprezar a própria raça."
Jarbas Passarinho, ex-senador (ISTOÉ, 17 jul. 1996.)


     O artigo quinto da Constituição Federal Brasileira proclama que “todos são iguais perante a lei”. Entretanto, sabe-se que já na Revolução Francesa, a igualdade era um ideal utópico. Isso se deve a formação da nação que se define por meio de processo de colonização, principalmente. O Brasil, por exemplo, foi ocupado pelos portugueses que consideravam as raças negra e amarela, inferiores em detrimento da branca. Destarte, por que discursar a igualdade, se ela é praticada apenas virtualmente?

     O ex-senador Jarbas Passarinho, defende a inexistência do racismo no país. Fundamentado num raciocínio romanesco, ele dá como causa da polêmica diferença entre etnias a mobilidade social – justificada empiricamente em “há gente de cor em nossos tribunais superiores, mas não no Supremo Tribunal Federal (STF)”. Esse argumento margeia a demagogia e é contraditório, a começar pelo sujeito da frase. O racismo, sistema que afirma a superioridade de um grupo sobre outros, intensifica-se quando nem condições de caráter primário são garantidas aos cidadãos de determinada sociedade.
     Contrariando a colocação de Jarbas “o negro não pode estar no clube do branco porque é pobre” o ministro Joaquim Barbosa tornou-se um jurista brasileiro. Negro, filho de pedreiro e de dona-de-casa, atuou no STF e só não assumiu a presidência do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em virtude de problemas de saúde. Dessa forma, por que considerar como nulo o ingresso de um negro nas altas camadas sociais?
     Além disso, dizer que o “racismo como doutrina não vingou por causa da miscigenação” é negar a evidente discriminação de negros e mestiços, excluídos não só pela pobreza, mas também pelo fenótipo. Quanto ao casamento, há grande indignação. Qual a relação entre matrimonio e racismo no século atual? A liberdade ainda constitui um fundamento da Democracia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário