quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Pernas .

São compridas e adoram roçar-se nas alheias. Lembro de fazer questão de tê-las querido ver assim que as notei atrás do jeans. Pareciam chamar-me para perto, porque já eram atraentes quando nem as conhecia bem. Davam passos com elegância e certa destreza, num caminhar adorável em cada detalhe; fosse pela distinção que possuíam em virtude da altura de seu dono, fosse pela postura que assumiam quando aguardavam passar. Eu sabia que teria oportunidade de apreciá-las nuas, mas não era aquele o momento.


Esperava por uma tarde ensolarada entre as borboletas e todas aquelas coisas de filme, mas foi numa manhã nublada que, depois de muito insistir, mirei-me com a contemplação. Distraído, o moço contou-me tantas coisas que já nem lembro do que se tratavam. Eu não sabia bem do que falávamos, pois de frente pra’s rechonchudas e cabeludas pernas estava. Ah, como são belas! Até hoje passo centenas de segundos observando aquele primoroso par. Ah, nem sou tão desatenta assim. Recordo-me de seu possuidor ter dito que “o jazz é maravilhoso!”.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

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Só há um verbo

Só há um verbo
Que eu sei conjugar.
Que da minha cabeça não sai,
                              Que é amar, amar, amar.                          

E quando eu vejo você passar,
Eu fico gritando por dentro,
Não vai, por favor não vai,
Não vai que eu não agüento.

Mas você segue o seu caminho,
Me deixando tão sozinho,
Sem olhar para trás.

Sem perceber que estava te olhando,
De longe, te admirando e te amando,
Me deixando só com os meus ais…
(Vinícius de Moraes)


sábado, 14 de novembro de 2009

Post-it

Saudade, Gi, Nana, Su, Mila, Bru, Naty...
Fazia tanto tempo que a gente não sentava na porta juntas...

Amo muito vocês!

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Há um eu lírico pesado aqui e já não me é de total realidade o que me vem a mente. Por ora, devaneios recheados de desejo e pobres em verdade.

Alter eu.

A Outra
Amamos Sempre no Que Temos

AMAMOS sempre no que temos
O que não temos quando amamos.
O barco pára, largo os remos
E, um a outro, as mãos nos damos.
A quem dou as mãos?
À Outra.

Teus beijos são de mel de boca,
São os que sempre pensei dar,
E agora e minha boca toca
A boca que eu sonhei beijar.
De quem é a boca?
Da Outra.

Os remos já caíram na água,
O barco faz o que a água quer.
Meus braços vingam minha mágoa
No abraço que enfim podem ter.
Quem abraço?
A Outra.

Bem sei, és bela, és quem desejei...
Não deixe a vida que eu deseje
Mais que o que pode ser teu beijo
E poder ser eu que te beije.
Beijo, e em quem penso?
Na Outra.

Os remos vão perdidos já,
O barco vai não sei para onde.
Que fresco o teu sorriso está,
Ah, meu amor, e o que ele esconde!
Que é do sorriso
Da Outra?

Ah, talvez, mortos ambos nós,
Num outro rio sem lugar
Em outro barco outra vez sós
Possamos nos recomeçar
Que talvez sejas
A Outra.

Mas não, nem onde essa paisagem
É sob eterna luz eterna
Te acharei mais que alguém na viagem
Que amei com ansiedade terna
Por ser parecida
Com a Outra.

Ah, por ora, idos remo e rumo,
Dá-me as mãos, a boca, o ter ser.
Façamos desta hora um resumo
Do que não poderemos ter.
Nesta hora, a única,
Sê a Outra.

(Fernando Pessoa)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Poly. Greg.

Lembrei hoje de um dia que voltei do pátio mais cedo e vi um casal meio que excêntrico sentado no corredor da minha turma. Havia uma magia singular entre eles. De um lado, o bom estilo e a inteligência personificados numa figura feminina e singela; do outro, um rapaz obstinado e reservado que se desfazia num feição platônica e apaixonada. Quase ninguém sabia que por detrás daqueles dois indivíduos havia um só coração, que batia mais forte quando se uniam para botar as conversas em dia. Cada passo dado meu testemunhava um "tum tum" mais forte e mais firme...
Passou-se o tempo e as cenas repetidas às dez da manhã dos dias úteis também se passaram. Contudo, permanece naquele passadiço de azulejo desbotado, uma atmosfera de carinho e afeto; onde até o vento conspira a favor daquele romance sutil. E o som das batidas que abasteciam aqueles encontros continua - sendo ouvido apenas pelos que conheciam a cumplicidade que os dois jovens haviam pregado naquele concreto cooperante.

domingo, 24 de maio de 2009

Angústia

“O que diz teu olhar?
Aonde a negritude de teus olhos quer me levar?
Leve-me, pois já não há tempo.
Hesite, apenas, não viver.
A vida, e não a morte, é que não tem limites.
Vive-se aqui o que se quereria fazer
Se houvesse oportunidades.
Ei-las à tua frente.”

“Passa dia, passa hora, passa minuto.
Quem oculta o amor tem culpa
Por evitar que se deslumbre os sóis,
Por evitar que se desfaça a insólita vertigem
Que traz a solidão.

Deixe de demora,
Abra-se, mostre quem és!
Não percebes o tempo que passou,
A dor que se comprimiu – mas que não
Deixou de existir?
A porta que abriste em meu coração
Permanece como deixaste da última vez que entraste.
Dia e noite,
Madrugadas e tardes,
Senti teu cheiro
Inebriada pelas lembranças de dias e dias atrás
Mas que pareciam ter sido de ontem.
Tudo permaneceu multicolor e congelado,
Nitidamente, vejo-o como da primeira vez.
E eu não te amo.
Pelo menos, sempre acreditei que não.”

I tried.

“Haverá de ser uma sede insaciável,
Uma busca incansável,
Uma fome sempre alimentada.
Como não se pode ser;
Eu tentei tornar tudo possível.

‘Um erro assim tão vulgar’...”

DER TRAÜME IST SÜSS

Saudade do que não aconteceu.
Saudade da dor que doeu e se recolheu.
Saudade do medo que temeu.
Saudade da esperança que um dia se desvaneceu.
Saudade do olhar que castanho é,
Das olhadelas, do sorriso soslaio,
Da pele ‘branca como o mármore’,
‘Fria como o gelo’.
Saudade do calor do corpo que não senti, das palavras proferidas que nada diziam no tudo.
E das mãos e dedos longos que sonhei entrelaçar.
“Sister golden hair”.

Nada tão “reconfortante” quanto o afago sonhado,
O abraço não dado,
As frases não ditas,
As notas não ouvidas.
Que falta faz o desejo pujante de conhecer o I interior.
A alma dissonante,
O coração harmônico,
As cordas afinadas de sua verdadeira voz.
Vontade de possuir os tons
E a melodia que vibram aqui dentro, mas que de mim
Não fazem parte.

Essa canção que sustenta e guia,
Alimenta, e toca; é concreta,
É tocável, palpável.
Sussurros na madrugada
São os ecos da distância que nos separa.
Ou, talvez, que nos une.
Não estou ao seu lado,
Mas em devaneios,
Divagações,
Pensamentos,
Tudo se dissipa.
Eis o olhar eterno,
O toque das mãos,
A candura que transmite
Sua presença.
Saudade. Mas, agora, tudo é tarde.

Ao menos as lembranças,
A vontade de ver a fita vermelha...
Chocolate ao leite.

Sudetos, Mark Knopfler, Yvaine e Tristan, Gonçalves Dias, Química, Física, Matemática, Telefone, Desculpas, Entrelinhas, Coração aos pulos, Biblioteca,  Tristão e Isolda, “Ein ganzer summer”, Fernando Pessoa, Palio. Poesia parnasiana, Simbolista, Árcade, Realista... Uma miscelânea; Malabarismos românticos. Estrelas e Lua. A frustração de não tê-las vivido, O ódio por não tê-las entendido, Mas a razão de tê-las ouvido. Agora, bilaquiando. É doce o sonho.

terça-feira, 10 de março de 2009

Prognóstico obscuro.

Você ainda não notou como as coisas mudam com o decorrer do tempo? Ontem, a eternidade; hoje, um fim previsível - possivelmente causado pelo lúbrico olhar ou toque das mãos alheias.

"Os dedos travessos que tamborilavam na mesa, soaram como um chamado de aleivosia. 'Há algo de errado comigo? Sim, existem princípios morais (que deveriam me impedir de conjeturar sobre isso) omitidos pelos meus instintos; estes que se acumulam e reiteram uma possível idéia de mal sina.' Naquele momento, compreendi tudo como um período que logo passaria; talvez deixando marcas imprescindíveis prum futuro menos equivocado."

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Poesia áspera.

Uma roda com
pessoas portando
violões acompanhados de
vozes vazias.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Eufemismo Rulez.

"Tarde cinza é não te ver/ Oceano, te olhar/ Sudoeste quer dizer/ Chuva de vento no mar. Onde anda o meu viver/ Quero vê-lo voltar/ De mãos dadas com você/ Lá na beirinha do mar..." (8


Existe eufemismo para amar demasiado? Por favor, se alguém souber, deixem sugestões.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Destinatário: Amiga Érica.


Poderia responder-te com versinhos e entrechos o que é um amigo, mas tu bem o sabes. Ora, se isso não fosse verdade, poderia dizer-te que finjes bem esse dom da boa-fé, do companheirismo e da sensatez. Consideraria de muito bom gosto tal escolha em manejar uma amizade com tanto cuidado e carinho. Mas sem futuro do pretérito. Tu és, de fato, boa nisso. Sem falar que, junto a essas projeções, teus pormenores são mais amenos ainda. O modo delicado como tu delineas tuas próximas palavras, a maneira como tu moldas teus instintos e os impele à realidade. Tens, com muita moderação, um diadema - sim - adornado com gardênias e revestido de ouro, pois tua graciosidade e jeito sublime te fazem dignas de tal fidalguia. E, ainda que numa vida tortuosa e oblíqua, tu "tiras de letra" as maldizências e, como mulher crescida que és, ris de soslaio e ergue a cabeça sutilmente. Destarte, assumas que isso é ser amigo: dar o melhor de si, ser exemplo e lutar com o outro no bom combate. A demagogia é abominável.
Isso é o que tu deixas nítido e transpareces até nas atitudes mais singelas. Mas, enfim, queria deixar-te claro que nada, nem ninguém podem contrariar tuas aptidões e a vocação que a vida te premiaste. Haja o que houver, o tempo foi fiel contigo e te trouxe, depois de muitos ensaios, uma novela digna de admiração e de ser assistida. Talvez tu penses que as provas que passaste feriram tua consistência e rasgaram teu juízo; e tentes me convencer de que teus propósitos são mais cruéis que dantes... e que, só tu podes compreender a dimensão de tuas dores e sufocos.
Perdi até o fio da meada. Desculpe, costumo ser prolixa - tu me conheces. O que queria dizer mesmo é que, de todas as formas, e de todos os ângulos, posso ter em ti segurança e uma força singular. Como se eu pudesse sorver tua essência e, então, ser alguém mais forte e melhor. De tudo o mais, tu és- de maneira positiva - uma inspiração para mim. E espero que sejas para todos os que tiverem a delícia de provar do teu encanto. Termino aqui meu ócio criativo. Eu te amo.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Monólogo.

Sabe, tem horas em que penso em fugir; fazer uma viagem de segundos com destino a qualquer lugar do mundo que possa me assegurar reviver todos os meus bons momentos. Penso sim e pretendo encontrar coragem para embarcar num devaneio desses e ter uma aventura digna de ser lembrada.
Tenho vontade de criar um Eu mais independente, ousado e dono-de-si; bom o suficiente para usar de suas engrenagens juvenis e despistar os oradores dos enredos mentirosos dos finais de semana. Sobretudo, questiono a minha mudança súbita quando desejo tanto por este caminho e escolho por outro a fim de seguir a caminhada infeliz e sem-graça de minhas tardes de dezembro. Parece dramático, mas pior que isso é viver tal melodrama.
Não, não acho a vida um episódio a ser jogado fora. E não desgosto dela. Só que a minha, particularmente, deveria ter um pouco mais de tempero. Talvez para mostrar o parque de diversões que se esconde no interior dela e salientar suas qualidades invisíveis aos personagens secundários participantes dessa peça de teatro. Não quero evidenciar o lado sombrio escondido em cada um de nós, misteriosos seres ditos comuns. Sou comum até nesse ponto, pois sei que existem outras pessoas que se locomovem e respiram as interrogações de sua atmosfera duvidosa - assim como eu. O que queria mostrar é, nada mais, nada menos, que a minha necessidade de honrar o papel que me foi dado; de assumir meu caráter espontâneo e causador de... Deixa pra lá. Não quero ser comum, mas já o sou. Não me basta ser mais uma a seguir regras e aceitar tantas imposições. Preciso de novas motivações ou, pelo menos, patrocínio às que tenho agora.
Não tô louca, prometo. É que quando verbalizamos os ecos de nosso inconsciente, não acreditamos que haviam tantas coisas sem sentido a serem expelidas. Não foi de forma tão graciosa que tentei fazê-lo. Não sou boa com as palavras; elas saem esvoaçadas de dentro de mim. Espero que não tenha entendido nada. Não quero que tema minha cruel dúvida de ser quem eu sou hoje.